Neil Armstrong, o primeiro homem
a pisar na Lua, morreu no último dia 25, aos 82 anos. Sua família, em homenagem
ao astronauta, proclamou a todos os cidadãos do mundo que se lembrassem dele
toda vez que olhassem a Lua. Inevitável:
no dia seguinte a essa declaração, minha memória me remeteu àquela carinha
galega e sorridente, dentro do imenso capacete.
Mas não deixo de também enxergar
um coelho estampado na Lua cheia. Dizem que só os apaixonados são capazes de identificar
a criaturinha quando se observa a Lua. Há também os que veem a figura épica de
São Jorge montado em seu cavalo e com sua espada em riste. Talvez seja pela
lenda do santo que a Lua seja tão associada a casais apaixonados, sonhar
acordado e outras suspirices do tipo.
Mas pra mim, o que deveras me desconecta
do que quer que eu esteja fazendo somente para contemplá-lo, o que sinceramente
me causa um suspiro apaixonado e profundo, magnetizando meu olhar por completo,
é o tal do pôr-do-sol.
Nenhum cenário é tão hipnotizante
pra mim quanto aquele degradê de tons alaranjados e rosáceos despontando na
imensidão azul. Sou capaz de parar o carro num lugar qualquer só para fitar
esse espetáculo que diariamente nos é apresentado. E democraticamente, onde
quer que estejamos, seja dentro de um carro de luxo, seja por entre as grades
de um xilindró, embaixo de uma marquise ou esticado numa rede na praia, podemos
admirar essa despedida solene do Sol, recolhendo com ele o que se foi e nos
inspirando para o que ainda virá.
Esse é o astro-rei que me enche
de suspiros, me dá uma alegria imensa por ter olhos de ver e um nózinho na garganta
de agradecimento à Vida e ao Artista que, magicamente, pinta essas nuances de
cor e energia todos os dias. Assim, de graça. Escancarado.
E o que me resta é me curvar
diante dele. E esperar a Lua.
Por Andrea Lino (declarando seu
amor ao céu de Brasília).