Quando comunicamos que sairíamos de férias com nossa filha de 6 meses, várias pessoas ficaram surpresas e nos fizeram perguntas do tipo “a neném vai também?” ou soltaram comentários como “vocês são corajosos, dá muito trabalho viajar com um bebê”.
Pois bem, munidos de coragem, vontade de tirar férias em família e do princípio de que crianças nascem em todos os lugares, então é possível ir com uma criança para qualquer lugar do mundo, arrumamos as malinhas e fomos para a Buenos Aires.
E foi muito gostoso, sem sofrimento. Talvez por que já sabíamos que o ritmo seria diferente do que o costumeiro e que demandaria mais cuidados. Fora isso, turistamos felizes da vida, com um bebê ainda portátil.
A grata surpresa foi perceber que como estávamos alegres, bem humorados e 24 horas/dia disponíveis para nossa filha, ela respondeu da mesma forma e foi uma excelente companheira de viagem.
Para ajudar, existem vários blogs de viajantes que não deixaram o hobby por que os filhos chegaram, cheios de dicas como o Viajando com Pimpolhos ou o Macetes de Mãe onde é possível tentar diminuir a ansiedade e tentar aprender um pouco com quem já vivenciou a experiência.
Em pesquisa prévia tive conhecimento e depois pude comprovar que Buenos Aires é uma cidade child friendly. A todos os lugares que fomos, restaurante, hotel ou ponto turístico, as pessoas foram muito solícitas e bastante interessadas no conforto da neném. Inclusive providenciando trocadores de fralda aonde não existia, sopinha que não estava no cardápio, espaço para acomodar o carrinho, preferência no acesso a elevadores, faixa de pedestre e etc. Uma maravilha! Havia poucos turistas com bebês ou crianças, mas muitos argentinos aproveitando o recesso entre o Natal e o Ano Novo, passeando com suas famílias como nós, muitas vezes com bebês ainda menores, sem frescura.
Buenos Aires com certeza vai além dos pontos turísticos. A cidade é linda, monumental, cheia de contrastes entre prédios de arquitetura clássica e a modernidade de uma grande metrópole. Uma cidade para ser apreciada em longas caminhadas ao ar livre (com calçadas lisinhas, perfeitas para quem guia um carrinho de bebê), com pausas para um café, sorvete ou um vinho Malbec em um dos seus vários e excelentes restaurantes, treinar o espanhol com um desconhecido ou debater os rumos políticos da América Latina com qualquer taxista.
A capital porteña é destino conhecido de brasileiros, mas segue aí o nosso roteiro de cinco dias bem lights, que contou com a ajuda do blog Buenos Aires para Chicas e com as indicações e acompanhamento de uma prima e o namorado argentino que moram na cidade.
1º dia: Sintonizando
Como era Natal, fomos para o Parque del Centenário para nos encontrarmos com nossos anfitriões e curtir o resto do feriado à maneira porteña: relax e uma boa conversa estirados sobre uma manta no gramado do parque. Muitas famílias com suas crias, todos no mesmo espírito, aproveitar o dia tranquilo. Para quem tem crianças maiores este é “o” programa: além de brinquedos e patinhos no lago para serem alimentados, o parque conta com o Museo Argentino de Ciencias Naturales e muitas bancas de livros e gibis infantis.
À noite jantamos uma autêntica pasta sorrentina, que dizem ter sido inventada pelos imigrantes italianos em Buenos Aires e ganhou o mundo. Eu nunca tinha ouvido falar, mas parece-se muito com um pastelzinho recheado, feito de uma massa bem macia e recheio tenro de queijo. Uma delícia! Para fechar a noite, experimentamos o M-A-R-A-V-I-L-H-O-S-O sorvete de doce de leite da Persicco (e essa foi minha refeição principal nos próximos 4 dias).
2º dia: Centro, Retiro e Puerto Madero
Fizemos o percurso clássico: Passamos pelo Teatro Colón, aonde deveríamos ter feito a visita guiada (não cometam a mesma gafe, entrem na fila e sejam felizes!), em seguida o Obelisco e batemos perna pelo comércio da Calle Florida, com parada para uma voltinha pelo shopping Galerías Pacífico.
Detestamos a Florida, não tem nada de interessante. O que vale a pena mesmo é a arquitetura das ruas paralelas e chegar ao fim da rua, dando de cara com a belíssima Plaza San Martin. A esta altura, já estávamos no bairro do Retiro e pudemos conferir a Torre Monumental e otras cositas que estão ao redor. De lá pegamos um táxi para Puerto Madero e pedimos para descer próximo à Puente de la Mujer. Caminhamos com tranquilidade pelo porto, nos apaixonamos pela arquitetura, deixamos a bebê bem livre e escolhemos um restaurante para um belo jantar com vista para o rio.
3º dia: Recoleta
O hotel onde nos hospedamos era no limite entre o Bairro da Recoleta (charmosíssimo) e o Centro. Fomos a pé até o cemitério que dá nome ao bairro, passando por inúmeros cafés (foi difícil escolher em qual parar!) e a arquitetura ao estilo francês. O passeio no cemitério é roteiro obrigatório, através de suas tumbas e arte mortuária inigualáveis, é possível conhecer um pouco das principais personalidades da história de Buenos Aires. Melhor fazer a visita guiada.
O cemitério é rodeado de restaurantes, bares, cafés, alguns bem no estilo “pega-turista” outros, super bacanas. Nós avistamos o Recoleta Mall num calor de 35 graus e não tivemos dúvidas: vamos almoçar no shopping, refrescar a criança, usar um trocador apropriado....essas coisas da vida de quem tem um neném. A fofa agradeceu e até tirou uma sonequinha tranquila, enquanto nós esticávamos as pernocas, afinal caminhar empurrando carrinho de bebê é para os fortes. O local tem opções charmosas condizentes com o bairro, lojas bacanas, uma imensa livraria e uma plaza com cafés ao ar livre no térreo, com entrada pela rua.
Dali seguimos para a Plaza de Francia, que fica ao lado do cemitério, aonde acontece uma feira de artesanato todo sábado e domingo. Seguimos caminhando até a escultura Floralis Generica e de lá, fomos conferir o acervo do Museo de Belas Artes de Buenos Aires (entrada gratuita e acervo bastante diversificado). Este percurso é todo muito bonito, arborizado, com muitas obras de arte ao ar livre e conta com o imponente prédio da Faculdade de Direito da Universidade de BA.
À noite, jantar no hotel, por que a filhotinha não aguentava mais ficar na rua.
4º dia: San Telmo e La Boca
Acompanhados de nossos anfitriões, fomos para a Plaza de Mayo, entramos na Catedral Metropolitana (onde o Papa Francisco costumava celebrar missas e tem uma interessante história) e avistamos a Casa Rosada (que estava fechada para visitação). Descemos a pé para Feria de San Telmo, que ocorre aos domingos e aonde passamos quase que o dia todo, parando vez ou outra para nos refrescarmos, tirar a neném do carrinho e curtir o movimento. De quebra, pechinchamos muito e compramos todas as lembrancinhas prometidas.
A minha sugestão é que você aproveite a proximidade e conheça também o Bairro La Boca, cujas principais atrações são o Caminito, o Estádio de La Bombonera e a Fundação PROA - museu de arte contemporânea, com um café na terraça maravilhoso, de onde é possível ver o rio.
À noite jantamos na tradicional Pizzaria Guerrin, um clássico da cidade. Não há muitas opções de sabores, mas é deliciosa. Algo curioso é que as pizzas são servidas acompanhadas de Fainá (massa de farinha de grão de bico, cortada fina) e que come-se junto com a pizza. Para uma experiência autêntica, os locais indicam a combinação pizza com fainá e um copo de vinho moscato (ralo e doce). A combinação é estranha para nosso paladar, mas vale a pena experimentar.
5º dia: Jardins e Palermo
Trajeto lindo e revigorante: conhecer o Jardim Japonês e o Rosedal. Como era verão, nos apaixonamos pela beleza, variedade de rosas e o perfume do lugar. Bem próximo, está o Museo Evita, que não tivemos tempo de conhecer, mas é super bem recomendado, assim como seu restaurante/café.
Pegamos um táxi para Palermo Soho (pedimos para descer na esquina da Costa Rica com Armenia). Por lá, muitos restaurantes, cafés, gente interessante, lojinhas de design, adegas. Na Plaza Serrano, acontece uma feirinha de roupas e acessórios de estilistas e designers independentes, mas que passamos reto em função do calor. Se não estivéssemos com um bebê, ficaríamos para um happy hour e esticaríamos a noite no Palermo Hollywood, por que à medida que foi anoitecendo, o negócio ferveu de gente!
Nós optamos por caminhar um pouco mais até o Jardim Botânico e pela Avenida Santa Fé e terminar de chegar a pé no hotel. À noite, jantamos no Bodegón Spiaggi di Napoli, localizado na Avenida Independencia 3527. Os Bodegones são restaurantes clássicos de culinária porteña. Locais tradicionais, familiares, abertos no início do século 20 e que funcionam até hoje, esbanjando sabor, simpatia e pratos bem servidos com um preço convidativo. Por que vamos combinar, comida gourmet, garçons hipster, micro-porções e preço alto têm limite!(Risos)
Por forças das circunstâncias, não pudemos assistir a nenhum espetáculo de tango, só aqueles de rua mesmo. Mas a vontade era de conhecer a Universidad del Tango ou a milonga La Catedral del Tango, local bem alternativo, que antes de abrir a pista, ministra aulinhas grátis com os principais passos de tango. Fica para a próxima, afinal Buenos Aires pede para ser visitada várias vezes.
Este texto foi publicado dia 27/01/2015 no Blog de viagens Embarque Autorizado: http://www.embarqueautorizado.com.br/#!N%C3%B3s-um-beb%C3%AA-e-Buenos-Aires-Por-Francielle-Miranda/c1sbz/BC880F66-C2C0-41D6-B810-0BE23B9CA030