Ela escolheu ser perfeita. Percebeu cedo que a maioria das pessoas julga baseado naquilo que os demais alcançaram ou conquistaram e concluiu facilmente que demonstrar suas fraquezas e limitações poderia ser muito perigoso e humilhante.
Perigoso por que a vida é uma guerra, e neste caso, demonstrar suas fraquezas seria dar motivos para ser massacrado pelo inimigo.
Humilhante, pois ao assumir para si mesma que erra, destruiria o pedestal em que se colocou e a assentaria no mesmo patamar das demais criaturas. O orgulho, massacrado, não suportaria por muito tempo e morreria sufocado.
Assim, não querendo perder seu espaço no mundo ou desapontar o orgulho que pulsa em suas veias, seguiu trabalhando minuciosamente para alcançar resultados perfeitos no dia a dia. Mas, no fundo o que ela queria era desesperadamente ser amada e aceita.
Vestiu-se de virtudes que não possuía para encobrir deformidades tão humanas como de qualquer outra criatura, limitações psicológicas, emocionais e espirituais próprias dessa nossa natureza imperfeita.
Com as próteses de virtudes, veio a doença: o perfeccionismo. Esse teimosismo em ser Deus somado à prepotência de quem acha que pode controlar todas as variáveis de sua vida.
Desta forma, propondo-se objetivos irrealizáveis amparados numa autocrítica constante, veio um sentimento de que nunca era boa o bastante e o pavor da desaprovação. Daí para achar que o controle de si mesma era sinônimo de disciplina e força, foi um pulo!
Deixou de ser complacente consigo mesma, estabeleceu critérios para medir sua eficácia, menosprezou a capacidade das pessoas ao seu redor, tolheu familiares e amigos, embarcou na agressividade e depressão diante das frustrações óbvias que enfrenta que não consegue ter uma visão realista de si.
Viu-se só. E no silêncio que desde então se encontrava, percebeu que tinha pavor de ser humana.
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