Sabe quando os problemas são tantos, as preocupações entorpecem sua razão e sua sanidade saiu para dar uma voltinha porque não aguenta mais o excesso de realidade conturbada? Pois foi justamente quando vivi esse momento que descobri o poder da futilidade. Sim, minhas queridas Divas. Se estou viva e, pasmem, consciente para escrever esse texto, foi porque a dona futilidade me salvou. Vou explicar como.
Sempre tive muito preconceito em relação àquelas Divas inferiores que gastam a vida inteira discutindo tonalidades de tinturas de cabelo, o quanto os salões de beleza estão cobrando por californianas, a importância de uma unha bem feita, etc. SEMPRE torci meu considerável nariz para esse tipo de coisa. Desculpe, sou politizada e gosto de me preocupar com coisas mais relevantes!
Acontece que após o desemprego, processo trabalhista frustrado e um bico que mal me pagava pelos serviços prestados, comecei a surtar. Fui ao que considero o fundo do poço e permaneci lá por algum tempo. Totalmente sem luz. À beira do que chamei de “depressão”, comecei a escutar os conselhos de duas amigas: Debi e Dani. São duas fofas, lindas, inteligentíssimas, pelas quais morro de admiração. No meio de tanta turbulência financeira/profissional, elas começaram a me converter para a futilidade como meio de sobrevivência.
Quando estava quase desistindo de tudo, já havia chorado quase todo o líquido do meu corpo, ouvi com atenção o que elas me falaram durante um café: “gente, a única graça que vejo hoje na vida é pintar a unha”. Nunca mais vou me esquecer dessas palavras. Como assim? Desde quando um esmalte vai pagar suas contas? Ou vai trazer aquele príncipe encantado em 7 dias? Não, eu tinha que, pelo menos, experimentar um pouco daquela insanidade para poder tratar minhas pobres amigas.
Cheguei em casa e comecei a terapia. Pintei as unhas com o Canoa e, depois do processo, vi que tinha vencido um medo (e preconceito) de anos: esmalte escuro! Olhei várias vezes para aquilo e tentei me acostumar. O máximo que já tinha usado era um renda, coisa do tipo. Jamais coloquei um vermelhão. E não é que o efeito transformador começou a surgir?!
Saí de casa para trabalhar no outro dia jurando que todo mundo comentaria o meu grande passo. Tudo bem. Só a Debi e a Dani se entusiasmaram com a mudança. Mas e daí? Eu já estava me sentindo melhor. Infelizmente, a unha escura não foi o suficiente para persuadir meu “chefe” a me pagar o que devia. Porém, aquele Canoa foi a peça que faltava para eu enxergar tudo de outra forma.
Como assim? Explico! Ao contrário do que sempre pensei, cuidar da aparência não significa jogar 500 zilhões neurônios no lixo. Muito pelo contrário. Só realça ainda mais o magnetismo que tem uma mulher inteligente. É importante salientar aqui que tudo bem fazer uma visitinha às clínicas de estética, desde que a cachola esteja perfeitamente preenchida de conceitos, conhecimentos e informação. Mais uma lição que a linda da Daniela me ensinou. Beleza e conhecimento se completam. Podem viver juntos em harmonia e gerar filhos encantadores.
Com tudo isso, aprendi que a futilidade é necessária para distrair nossas mentes, para nos manter jovens, belas e com o mínimo de linhas de expressão. O efeito que ela faz por fora é pouco se comparado ao que pode causar à autoestima. E no final das contas, de nada adianta inteligência sem amor próprio. Por isso, sem nenhum ressentimento, sem nenhum pudor e com todo o exibicionismo que nunca tive, digo: devo minha vida à futilidade.
Obrigada, Dani e Debi pelos esmaltes da Impala.
Por Ítala Carvalho (Jornalista. Escreveu no Reflexões de uma Diva a convite do blog)