sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

O corpo perfeito é aquilo que você não é

   As edições do Big Brother Brasil e o carnaval sempre coincidem. E com eles, uma enxurrada de corpos esculturais nas telas de TV, nas revistas em geral.
   São bundas, coxas, seios, cabelos, barrigas das mais perfeitas possíveis. Fruto de dias de sacrifícios de todos os tipos.
   A mesma pauta percorre do Bom Dia Brasil até o Jornal da Globo: os corpos sarados de verão, a atriz que emagreceu 7 quilos em um mês sem passar fome (hã?!), a dieta de carnaval da madrinha de bateria famosa...
   E nós, aqui, seres humanos normais que trabalham 12 horas por dia, passam mais 2 horas no trânsito, tenta fazer uma reles caminhada duas vezes por semana, concilia os horários para pegar a promoção do supermercado e, quem sabe, um cineminha no final de semana; ficamos abismados observando tudo isso e às vezes pensa: “Tem jeito não. Vou ser feia mesmo por que não tenho tempo para construir um corpão desses.” ou, fruto do desespero por se enquadrar no padrão estético “dominante”, cai na conversa da vendedora de Herbalife, do pacote mágico de estética ou do shake milagroso.
   Tudo isso, como se aquela ali fosse a beleza real, aquela como diria Zeca Baleiro: A beleza que põe mesa, e que deita na cama. A beleza de quem come, a beleza de quem ama. A beleza do erro, puro do engano, da imperfeição...
   A incoerência toda é que elas é que são consideradas as heroínas, pelos seus feitos colossais na sociedade da corpolatria.
   Elas, as perfeitas, são felizes? Por que vê-las assim, em tanta abundância nem sempre me deixa na melhor auto-estima.
   Entretanto, acho que eu é que merecia uma capa de revista por com todas as minhas imperfeições físicas, espirituais e emocionais, conseguir ser feliz. Pela minha coerência crítica perante estes fatos, pelos meus feitos brilhantes na batalha do dia-a-dia, por conseguir ler três livros por semana e ainda ser uma excelente esposa (na mais moderna acepção do termo).
   Sendo eu a heroína, como se referirá o Pedro Bial a mais nova Big Bunda?
   Se o corpo perfeito sempre será aquele que não é meu, então melhor interromper a neurose por aqui e cultivar outras expectativas mais saudáveis perante a vida.

5 comentários:

Aline disse...

Ai, ai... é isso mesmo! Olho ao meu redor e só vejo "corpos monumentais". E as respostas das "musas" são sempre as mesmas: "como de tudo e não faço um exercício, pode?" Vai mentir pra lá!!! E sou obrigada a acreditar que a sorte não bateu à minha porta. Afff... O que me falta é tempo e money para melhorar a máquina! Daí, minhas amigas, não teria pra ninguém!!!!rsrsrs

Anônimo disse...

como eu assisto BBB todos os dias e tenho que escrever as matérias falando dos corpos e das bundas, eu tenho ideia de como se sente. Mas uma dia desses, comentei com meu chefe que sou muito feliz por ser uma imperfeita anônima. É muito chato ser perfeitinha e burra, cheia de conflitos mesquinhos. Porque a maioria delas são assim: seres humanos vazios. Viva a imperfeição!!

Nut. Juliana Tolêdo disse...

Adorei... Vi aberrações este ano, como uma modelo com 300 mil plásticas que fez mais duas: para retirar parte e colar os lábios da vulva e retirar os mamilos para sair totalmente nua na avenida. Está na URL http://bobagento.com/apos-duas-cirurgias-plasticas-angela-bismarchi-espera-ansiosa-o-carnaval/. Reversível, pois os recortes estão guardados em nitrogênio líquido. Deu-me a idéia de um Frankstein.

Sou vaidosa, já fiz lipo e pus prótese, mas não vivo em função disso. Apesar das neuroses impostas pelo mundo, eu ainda concordo que "Bonito é ser você", como no título de um livrodo qual não me lembro o autor. Como nutricionista já vi muita gente infeliz e vazia por questões estéticas regerem suas vidas. É lamentável.

Ângela Nery Soares disse...

Diva!!Perfeitos os seus comentários!!
Infelizmente estamos cercadas por uma cultura que dá mais valor à casca do que ao conteúdo!!Paciência!!Beijocas

Anônimo disse...

O pior é saber que as nossas crianças estão tendo esse tipo de referencial... outro dia fiquei de cara! PRESENCIEI (o que é bem diferente de ter "ouvido falar") uma criança de mais ou menos uns 8,9 anos perguntando pra mãe com que idade ela poderia fazer plástica pra aumentar seus seios. No meio de uma conversa entre colegas de trabalho, a mãe reclamava dos pneuzinhos e dizia o orçamento récem realizado de 11.000,00 para tirar as gordurinhas e coloca-las nas nádegas (isso depois de já ter feito nariz, seios, lipoescultura etc. e detalhe: pesa uns 50kg, a infeliz!). A mãe, constrangida pela pergunta da filha, acabou por mudar de assunto e riu sem-graça, dizendo que já tava atrasada pra ir embora.
Valha-me Deus! Eu me preocupo com meu peso, faço corrida de 3 a 5x por semana, tento balancear minha alimentação, mas isso por que eu quero envelhecer bem. Agora correr o risco de ter uma hipóxia cerebral e ficar sequelada pro resto da vida, sendo que Deus me de um corpo completo e todas as ferramentas pra saber cuidar dele... Afff! É MUITA IGNORÃNCIA!