Depois de entrar no mundo da
maternidade, publicitária conectada 24 horas por dia como sou, é claro que eu
iria parar mais dia, menos dia, nos blogs sobre maternidade. Textos escritos
por mães que desejam compartilhar suas experiências, estabelecer uma rede de
relacionamentos, falar sobre suas visões sobre a criação de filhos e etc. Um
universo muito maior que eu podia imaginar, com mais poder de formar opiniões
que a minha reles visão de comunicadora já havia sido capaz de refletir em
torno do tema.
Se eu pudesse dividi-los em duas
categorias eles poderiam ser classificados em: (1) Lifestyle de classe média/alta
com filhos e (2) Militância de maternidade ativa. O primeiro não precisa de
muitas explicações, né? E é claro que estes eu descartei logo. O segundo tipo
em geral fala do empoderamento feminino a partir da maternidade e suas diversas
vertentes. Desde o parto até a vivência diária, “uma maternidade em que as mães
sejam as responsáveis por suas escolhas, que vivam aquilo que escolheram por
refletirem a respeito, sem viver somente as escolhas de outras pessoas. O que
hoje buscamos é uma forma de ser mãe que liberte e fortaleça a mulher, que lhe
dê autonomia, coragem e que fortaleça sua auto-estima, colocando-a como peça de
mudança ativa no mundo.” (Lígia Moreira Sena, Blog Cientista que virou mãe)
Gosto da ideia de viver uma
maternidade crítica, reflexiva, libertadora. Para mim a chegada de um filho tem
que acrescentar, não limitar a minha visão e possibilidades no mundo. Sou mãe e
todo o resto que a experiência feminina me possibilita. Por aqui somos uma
equipe: eu e meu esposo trabalhamos para nos conectarmos com as necessidades de
nossa filha (nutrição, sono, crescimento cognitivo, amor e segurança) e a
ajudamos a se conectar com as necessidades de todos na família. Afinal a vida
não precisa acabar com a chegada dela, apenas se adaptar e seguir em frente.
Adaptar-se não é simples, mas sempre tem como complicar um pouquinho se a gente
se deixar levar e não tiver clareza de princípios. E assim que tenho tentado me
constituir enquanto mãe.
Caminhando nestas leituras
encontrei muita coisa boa, útil, libertadora, reconfortante, dando especial
destaque aos textos reproduzidos de Laura Gutman e sua visão muito humana da maternidade enquanto
processo de autoconhecimento. E muita, mas muita coisa radical mesmo, sobre parto
(humanizado), amamentação (livre demanda forever),
alimentação (contra e a favor de papinhas, BLW, métodos de introdução alimentar),
sono (da família e da criança), criação (com apego), disciplina (ou falta dela),
slings (benefícios reais, usos contraditórios e crítica excessiva a outros suportes
para transporte de bebês), a maternidade em si e seu lugar na constituição da
identidade feminina (muitas vezes um papel único e limitador de todo o resto).
A ponto de começar a questionar, mas será que a maneira que eu vivo a minha
maternidade é adequada? Está fazendo bem para minha filha? Eu não me localizo
nestas duas polarizações, e agora? Olha o contrassenso da minha falta de
crítica e autoafirmação!
Em meio a estas angústias (reais!),
um pouquinho de auto-análise e um bate-papo com uma amiga jornalista, também
mãe de uma bebê, que compartilhava desta mesma agonia, analisamos o fato
enquanto comunicadoras, para encontrar na teoria algo que justificasse a nossa
relação com estes textos.
Num mundo de cultura midiática,
já diria Douglas Kellner, aonde a revolução tecnológica modifica paulatinamente
o trabalho e o lazer, o conteúdo propagado pelos canais de comunicação
tradicionais ou não, como os blogs, acabam por ganhar imensa importância na
constituição da identidade dos indivíduos. A cultura veiculada pela mídia
transformou-se numa força dominante de socialização: suas imagens e
celebridades (como as super top mothers dos blogs) substituem a família, a
escola e a igreja como árbitros de gosto, valor e pensamento, produzindo novos
modelos de identificação e imagens vibrantes de estilo, moda e comportamento.
“com o advento da cultura da
mídia, os indivíduos são submetidos a um fluxo sem precedentes de imagens e
sons dentro de sua própria casa, em um novo mundo virtual de entretenimento,
informação, sexo e política está reordenando percepções de espaço e tempo,
anulando distinções entre realidade e imagem, enquanto produz novos modos de
experiência e subjetividade”. (KELLNER, 2002)
Estes modelos de experiência,
certamente ajustados e editados, modificados e representados, portanto
vibrantes de estilo, pareciam mais interessantes que a maternidade real aqui de
casa. Além disso, num mundo pós-moderno, faz sentido opiniões polarizadas, inflexíveis e binárias do mundo? Olha só que coisa! Eu comunicadora, caí na pegadinha do mecanismo de
funcionamento dos produtos midiáticos e me esqueci de questioná-los.
São apenas pontos de vista, não são a verdade. Por mais que eu ainda me sinta meio
solitária neste meu caminho do meio, é o meu caminho. Me faz feliz, buscamos
viver harmonicamente a reorganização de nossas vidas com a chegada de um
pacotinho de amor e suas surpresas, como uma amiga outro dia nos lembrou (Ju
Prigucci, Embalanço), aprendo e desaprendo o tempo todo com a leitura dos
blogs, dos livros e as conversas com gente aberta a viver a experiência de
ser mãe, sem ter que carregar uma bandeira ideológica o tempo todo.
E viva a análise, né não minha
gente?!
Ps: não tenho a intenção de
transformar este blog em um espaço para falar sobre maternidade. Mas são
reflexões de uma Diva que agora é mãe, então o assunto vem à tona, né?!
Referências:
KELLNER, D. A
cultura da mídia – estudos culturais: identidade e política entre o moderno e o
pós‑moderno. Trad. Ivone
Castilho Benedetti. Bauru: Edusc, 2002.
SENA, Lígia M. http://www.cientistaqueviroumae.com.br/2012/01/maternidade-ativa-maes-para-um-mundo.html
Um comentário:
Amiga,
ainda não sou mãe, mas sou radical quanto à aderir qualquer forma de radicalismo (um contraditório, não?). Mas me incomoda tudo que o obriga, limita ou me oprime! Estou adorando acompanhar sua descoberta como mãe. Afinal, é sempre bom ter referências e quando for a minha vez, quero me lembrar de cada conversa nossa. E agora, cada post seu!
Beijos!
Postar um comentário