quarta-feira, 25 de setembro de 2013

Instagram, representação de mim



Meus estudos sobre representação, em especial, nos documentários com sua “simulação de realidade” me ensinaram uma coisa: o olhar do diretor seleciona aquilo que é importante dentro de seu contexto para discorrer sobre o tema do filme. Ele não precisa dizer nada, nem de voz over[1], mas aquilo que ele escolhe dar visibilidade contém seu pensamento e sentimentos de maneira implícita, diz sobre o diretor, muito mais que sobre o objeto em si.
Pois bem, se o meu instagram fosse um filme sobre minha vida, sobre o qual eu pudesse tecer uma análise de mim mesma em terceira pessoa, eu diria: essa moça é publicitária, entende de imagem e de cinema, mas escolheu não se representar assim. Por quê? Suas imagens não representam o olhar de uma especialista na área. Talvez ela tenha tentando, mas simplesmente decidiu que ali não era lugar de fazer pose, parecer cult e legal. Andava meio cansada disso tudo.
Creio que talvez ela tenha ficado na dúvida, achou por alguns momentos que seu olhar fosse desinteressante, quem sabe por não parecer muito perspicaz aos olhos do mundo ou acerca do que esperavam que ela produzisse para esta maravilhosa rede de narcisismos incontáveis.
Assim, na obra documental de Francielle Felipe Faria de Miranda, observamos um número sem fim de temas recorrentes: ela e seu marido (nunca só ele ou só ela, sempre os dois), seus sobrinhos, suas irmãs, suas amigas e amigos, suas flores, seus cafés e alguns lances de eventos espíritas. Tem um pouco de dança e música também.
Ah, essa moça não sabia, nunca tinha parado para perceber o quanto de doçura há em seu coração. O andar dela é altivo, sempre bem arrumada (dizem que ela tem estilo), fala com uma braveza, expõe suas opiniões com tanta ênfase e certeza, é crítica, ágil, parece tão forte, mas o "filme" mostra outra faceta desta mesma vida: um mundo de feminices, fofurices, sentimentos doces e nobres, poesia.
A diretora não tem costume de falar sobre os temas que aparecem neste produto cultural da forma como ela os coloca ali, foi uma construção quase inconsciente, mas eles estão lá na sua obra. A “voz do documentário”[2] é representação de si mesma, em tons quentes, aveludados, com textura de sonho. Coisas que vêm lá do coração e que ela parece nunca ter enxergado sobre si mesma.
Menina boba essa diretora. Menosprezou seu filme, achou que ele era insosso, quando na verdade é uma dessas obras que fazem a gente pensar: existem outras coisas que precisam ser enaltecidas nesta vida. Família, casamento, união, amizades, pausas revigorantes, longas conversas, boas risadas e um sentimento de reverência para o Deus que criou e possibilitou isso tudo.
Talvez nunca tenha tido a chance de olhar para si através de outro prisma, mas agora que olhou, descobriu que é muito mais do que imagina. Leu as críticas, demorou a acreditar no que diziam sobre seu filme, sobre o seu olhar, mas concluiu: eles estão certos.


[1] Ocorre quando ouvimos a voz do diretor a fazer algumas considerações no filme documentário, como um narrador.
[2] Conceito cunhado por (NICHOLS, 1997) na publicação Introdução ao documentário, da editora Papirus.
A voz do documentário transmite qual é o ponto de vista social do cineasta e como se manifesta esse ponto de vista no ato de criar o filme. Fala através de todos os meios disponíveis para o criador, em especial, seleção e arranjo de som e imagem que conduzem a lógica organizadora do filme.
A voz aparece como um dos elementos de análise da representação nos documentários, que inclui ainda outros elementos tais como os aspectos sonoros, imagéticos, estilísticos e lingüísticos.

Um comentário:

Pablo Alcântara disse...

Interessante! Eu também tenho isso de me esconder mais do que aparecer em lugares onde todos gostam de se mostrar. Mas o que achei legal do que vc escrever e não tinha pensado é: há algo de nós no nosso esconderijo.